Um blog coletivo sobre material impresso.

segunda-feira, julho 30, 2007

28 Weeks Later (Extermínio 2)

Como essa é uma resenha de filme, não livro, ela foi transferida para o filme*log.

Vejo vocês por lá!

quinta-feira, julho 12, 2007

Iron Sunrise




A capa bonitinha (ainda que feijão-com-arroz) deste livro o torna um exemplo clássico da regra "não julgue um livro pela capa".


Este livro é MUITO RUIM. Pronto, vou falar de uma vez logo no começo.

O que não é a mesma coisa que dizer que é TODO ruim. Algumas coisas ficaram legais: por exemplo, o Charles Stross inventa um universo ficcional que é um híbrido de space opera clássica com ficção científica pós-humanista, e que é criado de uma forma *muito* bacana.

Mas, porém e todavia, na hora de inventar os personagens o Stross DESTRÓI COMPLETAMENTE o livro porque usa o mais clichê dos clichês, e da forma mais grotescamente clichê do mundo, em toda a história. (Noto que usei a palavra "clichê" três vezes na mesma sentença, mas mesmo assim está me parecendo pouco.) A impressão que se tem é a de que, indeciso sobre como fazer os vilões do livro, ele foi a uma Loja de Clichês próxima (vai ver existe uma franquia assim na Inglaterra!) e o seguinte diálogo aconteceu:

STROSS: Moço, eu preciso de vilões que pareçam terríveis no meu livro, mas não consigo espirrar nenhuma idéia que preste.

VENDEDOR: Ora, você não precisa de uma idéia que preste para vilões. Use clichês!

STROSS: Qual clichê o senhor indica para a maioria dos leitores odiarem muito, muito, muito os vilões?

VENDEDOR: É fácil! Escreva seu livro ambientado na Segunda Guerra e faça os vilões serem nazistas! Inclusive, se seu livro for transformado em filme no futuro, facilmente ganhará um Oscar!

STROSS: Uh... mas meu livro é ambientado séculos ou milênios no futuro, e em vários planetas...

VENDEDOR: É mesmo? Que estranho. Bom, então use... NAZISTAS ESPACIAIS!

E sim, os vilões do Iron Sunrise são... Nazistas espaciais. Note que não estou dizendo que os vilões têm alguns elementos levemente inspirados nos nazistas, como em Star Wars, onde o capacete do Darth Vader lembra um pouco o de um soldado nazista. Não, eu estou dizendo que os Nazistas Espaciais do Stross SÃO nazistas. Vejam só o "vetor de características" das figuras, indo das características mais genéricas e aceitáveis para as mais específicas e ridículas:

- Os Nazistas Espaciais são racistas e acreditam que são o Povo Eleito dono por direito do universo. (Infelizmente, este item aqui se aplica a muuuita gente mesmo, não só nazistas...)

- Os Nazistas Espaciais praticam genocídio.

- Os Nazistas Espaciais praticam eugenia.

- Os Nazistas Espaciais homens são altos, bombados, louros e de olhos claros, enquanto as mulheres são lindas, altas, louras e de olhos claros. Em suma, arianésimos.

- Os Nazistas Espaciais têm nomes germânicos do tipo U. Hoescht e U. Franz, onde o "U" é de "Übermensch", que entre eles é usado como um pronome de tratamento. (Este item me pareceu especialmente fedido não só pela especificidade extrema, mas também porque parece que o Stross está igualando alemães a nazistas. Tipo... Pelo que já notei isso é uma atitude comum entre os João-Seis-Breja de países vencedores da Segunda Guerra - deve ser brainwashing de décadas de filmes de propaganda de "como o lado 'bonzinho' venceu a guerra". Mas esperava mais do Stross - que é Inglês.)

Como se vê, sim, o Stross simplesmente transplantou nazistas da Segunda Guerra para um futuro de space opera, e aparentemente espera que isso seja visto como "desenvolvimento de personagens" e "worldbuilding".

É bom ressaltar que não estou dizendo que transposições literais não funcionam e pronto. Alguns exemplos de transposições literais que funcionaram: no 1984 o Orwell quase que literalmente transplantou o Stalinismo para a Inglaterra ; no Battlestar Galactica reimaginado o Estados Unidos (e talvez o mundo como um todo) é quase literalmente transplantado para as 12 Colônias; e no Lenda dos Heróis Galácticos o império prussiano e transplantado também para um contexto de space opera de forma quase literal também. Nesses casos bem sucedidos, porém, o autor claramente fez essa opção ou para falar de seu próprio mundo ou por razões estéticas. Já no caso dos Nazistas Espaciais do Stross, dá para notar que é porque o Stross estava com absoluta preguiça de pensar minimamente nos vilões mesmo.

Aliás, os vilões não são o único problema. A heroína também é completamente chupada, mas desta vez daquele subgênero do fim dos anos 80/começo dos 90, o cyberpunk. Pegando referências visuais de filmes com elementos de cyberpunk, a heroína é uma espécie de versão aborrescente da Trinity ou da Motoko, com direito a pele branquíssima, óculos escuros e roupinha de couro. Bleh...

De qualquer forma, este artigo falando mal de um livro do Stross talvez seja "chutar cachorro morto". Recentemente o Stross cometeu suicídio profissional na sua até então promissora carreira de escrtior bestseller de ficção científica, ao escrever em seu blog que, depois de ler e reler para ter certeza de que o que eu estava lendo não era uma alucinação minha, vi que podia mesmo ser resumido a:http://www.blogger.com/img/gl.link.gif


Colonização do espaço é inviável com a tecnologia atual. Logo, vê-se claramente que colonização do espaço nunca, jamais acontecerá, já que como todos sabemos tecnologia nunca, jamais avança. E mesmo se avançasse não existem pessoas querendo sair da Terra, e nem nunca existirão. Mas enquanto ainda existem trouxas que não enxergam essas verdades matemáticas fundamentais do universo, vou ganhar dinheiro em cima deles escrevendo historinhas que alimentam essa fantasia delirante.


Ao que só posso concluir que o Stross (a) pirou ou (b) já que estamos falando de FC, foi substituído por um clone saído de uma vagem alienígena, igual em "Invasion of the Body Snatchers". Bom, no caso de (a), espero que os anos enganando os trouxas tenham dado dimdim suficiente para a medicação e internação psiquiátricas! De qualquer forma, talvez isso explique porque uma space opera como o Iron Sunrise saiu tão ruim - deve ser análogo a um cético fundamentalista escrevendo sobre hostes celestiais de anjos, ou um espírita escrevendo sobre como a mente é só um epifenômeno da atividade cerebral e portanto esse negócio de alma não existe...

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