Um blog coletivo sobre material impresso.

terça-feira, janeiro 08, 2008

The Grays





Há alguns meses descobri que a Siciliano do Diamond Mall, aqui perto de casa, tem uma estante razoavelmente grande de pocket books importados, de fato grande o suficiente para ser possível achar uns dois ou três livros de ficção científica (e um ou outro gênero que pode me interessar, como ficção histórica) lá no meio. Aí tenho comprado livros "na sorte" por lá. É uma das poucas coisas que um apreciador de certos gêneros pode fazer para sobreviver aqui no Brasil - onde ficção científica em Português ocupa meia prateleira de uma livraria imensa como a Siciliano, e todos os livros são de autores clássicos de 50 anos atrás, sem nada de novo. A outra coisa que eu poderia fazer seria finalmente arranjar um handheld para ler ebooks, o que provavelmente vai acontecer em um futuro próximo.

Mas, enquanto eu não transcendo a matéria, o "método da sorte" me fez ler pocket books tanto horrivelmente ruins (como o Kris Longknife - Resolute) como muito bons (como o Imperium). E agora um ÓTIMO, o "The Grays"!

Quando vi a capa incrivelmente CHEESY acima, com um alien de olhos esbugalhados meio fora de foco e enevoado, e a tagline mais CHEEEEEEEESY ainda de "*eles* já estão aqui", pensei: "GENTE!!! Esse é o livro com que sempre sonhei, a minha vida inteira!!!" e comprei na hora. E não me desapontei!!!

"The Grays" reviveu para mim aquele maravilhoso subgênero do cinema/TV de ficção científica do começo dos anos 90, o "filme de Zuiudos" (assim chamada, por mim pelo menos, por causa dos aliens de olhos imensos, óbvio), que produziu filmes surreais como o Communion e outros toscos, mas inesquecíveis, como o Intruders. Aliás vou usar fotinhas desse crássico antológico do cinema-zuiudo, o "Intruders" para decorar este post. Na TV, a "ficção científica zuiuda" gerou o Arquivo X e sua versão pobre muito pouco conhecida (mas com Zuiudos muito mais explícitos, sem aquele mostra-não-mostra do Arquivo X que eventualmente encheu o saco), o Dark Skies, que era uma espécie de versão ufológica do Forrest Gump.





(Em tempo, o nome técnico desse tipo de alien baixinho, esquelético, cabeça imensa e olhos pretos imensos esbugalhados é "Grey", ou "Cinzento", mas acho "Zuiudo" um termo muito mais descritivo. De fato, se lançarem uma tradução desse livro aqui no Brasil, sugiro que traduzam como "Os Zuiudos".)





Pois bem, "The Grays" é um mexidão deliciosamente saboroso de todos os elementos, clichês e chavões da Ficção Científica Zuiuda, virando automaticamente um clássico e uma obra antológica do gênero. Alguns exemplos desses elementos presentes no livro:





- *Eles*, o grupo de humanos que esconde toda a Verdade sobre os aliens e funciona como um governo paralelo dos Estados Unidos.
- Civilizações humanas avançadíssimas no passado remoto, a la "Stargate" e "Eram os Deuses Astronautas".
- Vítimas de abdução que aos poucos vão descobrindo que são - sempre foram, aliás - parte de um Grande Plano.
- Falando em Grandes Planos, existe também um, uh, "messias" que pode ser a danação ou a salvação da Humanidade, dependendo do ponto de vista.
- Falando em messias, existe também o alien bonzinho que vem orientar os humanos ignorantes acerca do terríiiiivel destino que os aguarda.
- Tecnologia copiada de aliens e, ah, já ia me esquecendo, também de nazistas. A propósito, o tecnobabble do livro é interessantíssimo, porque usa desde conceitos de FC do Século XIX, como a "cavorita", até elementos de pós-humanismo, trans-humanismo e Singularitarianismo, como por exemplo viagem interestelar feita só com transmissão de informação.





Porém, por incrível que pareça, "The Greys" não é divertido só por causa da amálgama bem-sucedida de clichês. Na verdade, me arrisco a dizer que é um livro BOM MESMO, sob vários aspectos, por estranho que possa parecer! Vejamos pontos de escrita que realmente me impressionaram muito bem:





- Os Zuiudos de início soam como coisas terrivelmente alienígenas, mentes estranhas incompreensíveis - e aterradoras - para humanos. Mas, há medida que alguns humanos vão ficando mais, uh, íntimos dessas criaturas, o leitor vai tendo uma visão cada vez mais antropomorfizada das mesmas, e os Greys passam de monstrinhos horríveis para, de certa forma, "pessoas".

- Os personagens humanos soam MUITO reais, com preocupações e sentimentos MUITO mundanos mesmo quando se percebem em situações extraordinárias. Isso dá a eles tridimensionalidade e uma curiosa suspensão da descrença na ótica dos personagens.

- É o tipo de livro "magnético", que não deixa você desgrudar da leitura, folhetinescamente mantendo o leitor grudado no texto querendo saber o que vai acontecer. Eu lia igual um idiota, sorrindo e com os olhinhos brilhando. Meu único senão nesse aspecto é que acho que o clímax se arrasta demais, incluindo aí um "pós-climax" que achei desnecessário.





Enfim, achei um livro ÓOOOOOTIMO, e aguardo ansiosamente agora a continuação 2012: O Ano em Que nos Foderemos di Cum Força! Ah, e aguardo também o *filme* The Grays - de fato, a Sony comprou os direitos de filmagem do Strieber em 2006, antes do "The Greys" ficar pronto.

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